sexta-feira, 21 de março de 2014

gentilg@zipmail.com.br

11 de mar (Há 10 dias)
para mim
Meu Caro Amigo Eduardo, ( esta é para publicar no blog... caso seja do teu interesse, é claro... )
 
O bar é um lugar interessantíssimo ( democrático por natureza, pois não é preciso que sejamos sócios para freguentà-lo e não é preciso que sejamos convidados... basta que tenhamos um dinheirinho para pagar por algumas cervejas e pronto... ) Então, foi no bar dos vagabundos, localizado bem perto do apartamento onde eu resido, que tive esta revelação: estava sentado com a intenção de beber algumas cervejas e fiquei aguardando ser atendido. Um religioso aposentado, que reza missas para as freiras do colégio Sevigné - quando convidado por elas para isso - me viu sentado com as pernas cruzadas - de permudas - e veio na minha direção, disse: "Isso é que é vida, sentado de pernas cruzadas no bar, olhando os movimentos..." Eu respondi: "Claro, já fiz a minha parte... creio que não é pecado beber cervejas no fim da tarde... é ou não é verdade..?" O padre respondeu: "Mas é claro que não é pecado... principalmente se a cerveja for produzia no Rio Grande". Ficamos falando sobre essas e sobre outras coisas quando o garção chegou, viu o padre - já bem idoso - e solicitou a benção a ele que disse; "Deus te abençoe, meu filho..." e foi andando para cumprir com suas obrigações de religioso e etc. Fique ali, então, bebendo cervejas e observando as pessoas que passavam e ficando mais inteligente a cada copo que bebia enquanto algumas pessoas que passavam vinham na minha direção para conversar sobre diversidades. 
Foi aí, no instante em que estava bebendo a terceira cerveja, que tive a revelação: "de que todas as pessoas têm o direito de serem felizes... de se expressarem de acordo com a sua maneira de ser; e não importa que sejam padres ou gordos ou pretos ou índios ou pobres ou lésbicas ou travestis ou vagabundos ou ricos e bonitos ou altos e com corpos atléticos ou moradores de rua ou doentes... não importa que sejam donos do poder ou desvalidos... ou esposas e maridos com filhos para criar... não importa... a natureza disponibiliza espaços a todos os seres para que se manifestem de acordo com as suas tendências." Essa foi a revelação que tive; quem somos nós para julgarmos as pessoas..? Os espaços democráticos pertencem a todos os tipos.
Pois é, o bar realmente é um lugar interessantíssimo e democrático onde, após termos bebido a terceira cerveja, acontece de ficarmos muito mais inteligentes e da nossa mente se aperceber de revelações que não se manifestavam quando estávamos sóbrios. Na saideira, uma vizinha de prédio ( da terceira idade ) que tenho, estacionou na frente da mesa em que eu estava sentado, olhou bem para mim e disse; "O senhor está pensando muito na vida..." E eu respondi; "Pois é, as vezes isso é necessário". Ela sorriu e seguiu o seu caminho; imaginando coisas.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Esta é uma estória extraordinária que eu contei pro meu amigo Gentil Garcia que antropofagicamente recriou. Trata-se de uma estória verídica que aconteceu com meu avô Osório Custodio:

gentilg@zipmail.com.br

15:55 (Há 23 horas)
para mim
Caro Eduardo,
 
Eis uma história extraordinária - que nem mesmo o grande Edgar Allan Poe escreveu - mas me contaram e agora vou recontar ao meu modo ( como página de ficção desde a qual qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência ):
 
A "guria" - residente no Rio Grande profundo - deu ( de repende ) de receber um espírito malfazejo. Desses espíritos cabulosos que perturbam a paz de toda a família e até da vizinhança, se derem oportunidade. Então, aconteceu que da primeira vez em que o espírito baixou foi aquele reboliço na casa, uma correria para lá e para cá; a mãe dizia "ai jesus... ai jesus..." a avó preparava um chá daqueles que espantam "mal olhado" dos "brabos"... o pai tentava segurar a "guria" para que não quebrasse tudo dentro de casa e o espírito não tinha jeito de se acalmar... então, resolveram largar a "guria" campo afora para que "espairasse" aquele "encosto". No dia seguinte a "guria" retornou para casa ( depois do meio dia ) já bem mais calma dizendo que não lembrava nada do que tinha acontecido.
Na segunda vez, foi a mesma coisa... todavia, o pai reuniu a mulherada - depois que a "guria" saiu correndo campo afora - a mulherada que permaneceu em casa e explicou o procedimento certo a ser adotado; disse que iria tecer um rebenque gaúcho - desses com três pernas trançadas em couro cru - para espantar aquele espírito. Explicou que não iria bater na "guria" propriamente, mas no espírito e depois veriam o que se podia fazer. As mulheres da casa compreenderam e aceitaram aquela solução provisória e o pai da "guria" se pôs a tecer o rebenque gaúcho em couro cru e ficou esperando pelo espírito para que pudesse botar em prática aquele tratamento provisório. Bueno, não deu outra, pois o espírito já estava gostando daquela coisa de possuir a "guria" de tempos em tempos... só que dessa vez (terceira vez ) a coisa foi um pouco diferente, já que o rebenque gaúcho entrou em ação e o espírito esperneou a vontade mas levou uma saraivada de rebencadas que o corpo da "guria" chegou a ficar todo lanhado por vários dias, mas o espírito saíu ligeirinho de dentro daquele corpo e demorou para retornar. Na quarta vez foi a mesma coisa; o rebenque gaúcho entrou em ação e o espírito esperneou a vontade mas tomou-lhe outra saraivada de rebenque que o corpo da "guria" ficou novamente todo lanhado por vários dias... mas o espírito saiu ligeirinho de dentro daquele corpo e, desta vez, demorou bem mais tempo para retornar.
E foi assim que - na quinta vez em que o espírito deu sinais de retornar - aconteceu do pai da "guria" apenas segurar o cabo do rebenque gaúcho e balançar no ar como quem gira um laço ao redor da própria cabeça para que o espírito mafazejo dessistisse de possuir o corpo da "guria" e fosse cantar e dançar em outras freguesias.
 
Moral da História: Até espíritos malfazejos temem o rebenque gaúcho com três pernas trançadas em couro cru...
Estória Antropológica
Fato Real
Por Gentil Garcia

gentilg@zipmail.com.br

16:10 (Há 23 horas)
para mim
Caro Eduardo,
 
Falei ao cacique da tribo - mais ou menos - assim, à queima roupa; "Eu também sou índio". Ele já ficou bravo na mesma hora e respondeu-me; "Não... não és índio..." Argumentei, mais do que depressa; "Mas eu tenho até nome de índio..." e já fui pegando a carteira de identidade para provar o que estava dizendo. E o cacique da tribo falou, novamente; "Não importa a tua carteira, o fato é que não és índio..."  E foi ficando cada vez mais bravo, achei até que iria brigar comigo. Então, argumentei novamente, aprofundando o questionamento: "Quer dizer que para ser índio tenho que nascer em uma aldeia..?" E o cacique da tribo: "Mas não estás entendendo nada... não importa o nome e não importa o local onde tenhas nascido e não importa a roupa que estejas usando... por exemplo; podes dizer que és alemão ou até querer ser alemão, mas o fato é que não és alemão, assim também como não és índio... mesmo que queiras ser..." Continuei argumentando: "Está certo... então o que devo fazer para ser índio..?" E ele: "Tens que falar língua de índio... sabes falar língua de índio..?" E eu; "Realmente, não sei falar língua de índio... mas agora entendi e está legal. Então, vou aprender língua de índio e depois voltarei aqui para ser índio". O cacique da tribo começou a rir; "É isso aí..." Daí me pus a pensar; "Puxa vida..! o brasileiro não pode mais ser índio ( pois não sabe mais falar língua de índio )... e o brasileiro - depois que passou pelo processo de miscigenação - não pode mais ser branco... e também não pode mais ser preto, não pode mais voltar atrás... resta ao brasileiro ser um homem do futuro, aquele que já é resultado da mistura entre todas as etnias que serviram de matrizes para a sua formação..." E assim encerrou-se mais essa entrevista antropológica que realizei em busca do auto-conhecimento do meu eu promovido por mim mesmo. O cacique da tribo me deu a resposta certa - antropologicamente falando - pois, para que uma pessoa integre uma tribo qualquer ( mesmo que seja uma tribo urbana ) essa pessoa necessariamente deve saber falar a língua dessa tribo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Manhã linda num domingo de sol. Fevereiro de 2014 em Porto Alegre.

Sai pra passear. Botei a coleira nos cães  carro lavado, cadeiras de praia no porta-malas e vamos lá.

Gasômetro: Até tinha pouca gente, tava bonito. Parei o carro e tirei as cadeiras de praia, fiquei por perto do carro numa sombrinha por ali. Veio um cara, um “guardador de carros” : - Não precisa cara... eu mesmo to cuidando... (cara feia do guardador de carros). Não tem um restaurante por perto na beira daquele rio cheio de maricás....

O porto de Porto Alegre, já desativado, não serve pra nada por trás daquele muro imbecil onde tu não podes chegar de carro, estacionar e ficar apreciando o rio.

Redenção: Mais guardadores de carro. Dei uma volta com os cachorros, sentei por ali. Vi o que sempre se vê por lá. Não tem um restaurante com cadeiras na rua onde tu podes comer e ficar com os cachorros juntos.

Vamos pra zona sul. Andei 40 quilômetros e cheguei no Lami. Lá também não dá pra ficar com os cachorros mas tem um monte de gente com o som do carro aos berros, não tem um restaurante decente pra ficar apreciando o rio, sem dizer que por lá não conhecem o advento do cartão de crédito ainda.

Já é 13 horas e começou a me dar fome. Passei em Belém Novo onde há anos atrás tinha um bar e restaurante na beira do rio. A prefeitura mandou sair mas deixou o esqueleto do restaurante na beira do rio. Achei um bar, que não fica na beira do rio mas lá também não podia ficar com os cachorros mesmo nas cadeiras da rua, não tinha máquina de cartão de crédito e débito e nem peixe que era o que eu queria comer...

Fui pra Ipanema. Passei num banco pra pegar dinheiro antes. Tiraram todos os bares da beira do rio mas do outro lado da rua tem um monte de bons restaurantes. Tem também um monte de guardadores de carro  e também não dá pra ficar com os cachorros nem nas mesas da rua.

Sigo pra casa. Passo pelo antigo Timbuka. A prefeitura mandou arrancar o bar dali e não construiu nada. Não tem nada por ali só um carinha com um isopor vendendo latinhas de cerveja. Já é alguma coisa.Sentei por ali, cadeiras de praia na beira do rio tomando uma latinha por cinco pila, quente.

Voltei pra casa, abri uma lata de sardinha e coloquei no pão com maionese lá pelas quatro da tarde.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Greve dos Rodoviários em Porto Alegre

Os radicais de ambos os lados queriam um corpo, um cadáver, para justificar suas idéias, seus desejos sádicos, seus instintos violentos.
Devem ter ficado frustrados com o desfecho da greve dos rodoviários de Porto Alegre.
Uns, os rodoviários, tinham suas pautas relativas às condições de trabalho, salário e condição de vida; Outros, tinham outros interesses.
Um embate normal na esfera das relações de trabalho serviu para todo o tipo de manifestação.
Alguns, que oportunamente, usaram o movimento legítimo para avançar na sua pauta de embate contra o "status quo" buscaram a radicalização do movimento, sem sucesso, pois os rodoviários em sua sábia conduta, não se deixaram levar como massa de manobra.
Buscaram de todas as formas, inclusive com paus e pedras, um corpo, um cadáver...
Outros, que também gostam de ver o sangue alheio correndo por entre as pedras do calçamento, queriam a polícia contra os trabalhadores.
A Brigada Militar agiu magistralmente, por ordem do Governador Tarso Genro, que sabiamente não permitiu que uma disputa de ordem trabalhista, se transformasse em luto,  desarranjo social e violência policial contra trabalhadores em luta justa e legítima.
O comércio formal perdeu dinheiro mas alguns, como os motoristas de utilitários, vans escolares, taxistas e ônibus  de turismo ganharam. O prefeito grandalhão, Fortunati, fez vistas grossas ao transporte clandestino em sábia demonstração de pragmatismo político no momento de necessidade.
O dinheiro trocou de mão sem violência ou anarquia.
Tudo ocorreu como deve ser. A disputa foi para a Justiça do Trabalho, o movimento se solidificou, tudo foi decidido em assembléias legítimas e  não houve mortos e feridos.
Se os trabalhadores vão receber o justo e o esperado não sabemos, mas sairão desta melhor do que entraram.
A população sofreu mas de forma quase unânime apoiou os trabalhadores que são afinal, parte da mesma população.
Ficou uma lição de saudável luta pelo direito, pragmatismo político e compreensão social diante da adversidade.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Todo mundo acha que os gays são as piores pessoas que existem no mundo: Até ter um filho gay
Todo mundo acha que AIDS é coisa de viado, até ter alguém na família com AIDS...
Todo mundo acha que a polícia é trunculenta com os bandidos até ser assaltado, estuprado e sequestrado...
Todo mundo acha que a propriedade privada é coisa do capitalismo até ter seu patrimônio usurpado por quem não tem o mínimo direito...
Todo mundo acha que o Lula é o pior cara do mundo até vir o Emílio Garratazzu Medice tomar a sua liberdade de se manifestar....
Todo mundo acha que a ditatura é o melhor sistema de governo até ver seu filho ser morto pelo pessoal da polícia política....
Todo mundo acha várias coisas até ver o seu direito ser esquecido em prol de uma coisa que não dá direito pra ninguém que mereça... Mas dá todo direito pros que apoiaram o status quo....
Situação que presenciei hoje na volta do Mercado Público:
Três veteranos tomavam cerveja no bar na volta do Mercado Público. 
Lá pela quinta cerveja ( quente diga-se) um deles se empolga e interpela os demais: 
Véio! Abriu um cabarézinho novo lá em Novo Hamburgo que tem umas gurias lindas... Bem novinhas...
Frisson na mesa!!!... 
Depois de várias possibilidades aventadas e consultas à carteira de dinheiro um deles coloca todo mundo de volta na realidade...
_ Tá! Mas se é só pra tomar cerveja porque a gente não fica por aqui mesmo?....
Silêncio....
O Zé... dá mais uma....